sábado, 19 de agosto de 2017

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segunda-feira, 31 de julho de 2017

A LÍNGUA COMO ESTRUTURA

O estruturalismo entende a língua como um sistema externo ao indivíduo. Nesta teoria, os fatos externos determinam a forma como pensamos, nos relacionamos e até mesmo como nos comportamos as mais diversas situações. Segundo a o paradigma do estruturalismo já existem modelos estruturais para explicação da realidade, um sistema compartilhado socialmente por uma comunidade. Essas estruturas possuem características semelhantes e obedecem a certos princípios de funcionamento. Várias áreas da ciência aderiam o estruturalismo como concepção e método, mas cada uma com seus domínios e métodos específicos.


Segundo Martelotta (2012 p 114):


“O estruturalismo, portanto, compreende que a língua, uma vez formada por elementos coesos, inter-relacionados, que funcionam a partir de um conjunto de regras, constitui uma organização, um sistema, uma estrutura. Essa organização dos elementos se estrutura seguindo leis internas, ou seja, estabelecidas dentro do próprio sistema.”


    A partir dessa definição, um grande passo foi realizado no pensamento linguístico do século XXX. Além de notáveis progressos no âmbito das ciências humanas na investigação dos fenômenos da linguagem.
    Nesta abordagem, a construção da real é feita a partir de modelos explicativos chamados de estruturas. Essas estruturas constituem um sistema abstrato em que os elementos são interdependentes entre si e que permite, observando os fatos e relacionando diferenças, descrevê-los em sua ordenação e dinamismo.
O principal precursor do estruturalismo e responsável por essa ciência autônoma chamada Linguística foi Ferdinand de Saussure com sua obra póstuma Curso de Linguística Geral, publicado em 1916, sobre o qual edificou todo o edifício da linguística moderna, resultado de anotações de aulas reunidas e publicadas por dois de seus alunos: Charles Bally e A. Sechehaye. (ORLANDI, 2009: 19).  Rapidamente, as ideias de Saussure se espalharam após essa publicação e tornaram-se um ponto de partida para a linguística moderna.
Saussure compara a um jogo de xadrez, onde o valor de cada peça não é determinado por sua materialidade, ele não existe em si mesmo, mas é instituído no interior do jogo. Segundo Carvalho (2012, p. 62):


“As peças de um jogo de xadrez são definidas unicamente segundo suas funções e de acordo com as regras do jogo. A forma, a dimensão e a matéria de cada peça constituem propriedades puramente físicas acidentais, que podem variar extremamente sem comprometer a identidade do sistema [..]”


    Ou seja, no sistema linguístico todo elemento linguístico só tem um valor em relação a outro elemento dentro do sistema. Essas são as relações sintagmáticas e paradigmáticas que cada elemento assume em relação ao outro para constituir um significado. Dessa forma, cada um assume uma função dentro do sistema e não leva-se em conta suas acidentai formas.
    O que regulamenta esse sistema linguístico são as normas que são internalizadas muito cedo e que compõe o sistema e que começam a se manisfestar na fase de aquisição da linguagem. Trata-se de um conhecimento linguístico adquirido socialmente, na relação que mantemos com os grupos sociais em que estamos inseridos.
    O objeto de estudo do estruturalismo é a língua. Saussure (2006: p. 15) diz que a Linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua encarada em si mesmo por ela mesmo. Temos, então, a limitação da ciência e da abordagem estrutural. Apesar dessa definição, para Saussure, o linguagem dever ser tomada como um objeto duplo, uma vez que o fenômeno linguístico apresenta perpetuamente suas faces que se correspondem e das quais uma não vale senão pela outra. Assim a linguagem tem um lado social, a língua, e um lado individual, a fala, sendo impossível conceber um sem o outro (MARTELOTTA, 2012 p. 116).
    Com relação a aquisição da linguagem, o estruturalismo, buscou na psicologia behaviorista a explicação da aprendizagem das línguas. Onde a aprendizagem bem-sucedida é dada por meio de  respostas a estímulos produzidos no meio social e por meio de repetições associadas as respostas dos estímulos:


De acordo com Martelotta (2012 p. 208):


“Portanto, a aprendizagem linguística se dá, segundo a concepção behaviorista, em decorrência da sequencia estímulo > resposta > reforço. Dessa forma, para essa concepção o meio é fundamental para a aprendizagem de todos os conhecimentos, inclusive o conhecimento linguístico.”


Podemos verificar isso quando negamos algo a criança até que ela acerte o enunciado corretor ou a pronúncia da lavra correta.
    Segundo Bloomfield, a criança herda a capacidade de pronunciar e de repetir sons vocais sob diferentes estímulos, A articulação torna-se um hábito, e a criança, numa etapa seguinte, passa a imitar os sons que ouve. Ela faz associações entre sons e cosas inicialmente e, em seguida, aprende a associar uma palavra a uma coisa que está ausente. (MARTELOTTA, 2012 p. 207).
    Esses estudos sistemáticos sobre o que e como a criança adquire a linguagem,existem como tais, apenas mais recente. Desde o século XX, alguns linguísticas, guiados tanto por interesse paterno quanto profissional, elaboraram diários de fala espontânea de seus filhos (MUSSALIN, 2012 p. 242).
    O estruturalismo americano, especificamente Bloomfield, definiu algumas “regras” para a realização do método  estrutural de forma eficaz. Segundo cita Ilari (2009 p. 395), Bloomfield defendia explicitamente que “as únicas generalizações úteis a respeito da linguagem são de ordem indutiva. Era uma forma de evitar que o linguista tentasse dominar os dados por meio de sua intuição pessoal, lançando hipóteses que, por serem de ordem mental ou psicológica, corriam o risco de ficar sem “prova”, isto é, sem confirmação empírica
.O estruturalismo influenciou bastante o campo do ensino de línguas com o desenvolvimento de vários métodos de aprendizagem baseados nos princípios da visão behaviorista da aquisição da linguagem, justamente, com sua ideia de estrutura, sistema interligados entre si. De fato, a abordagem estruturalista dentro do ensino das língua é o mais adequado para a aquisição de uma língua pois é por meio das estruturas que todo o nosso pensamento está organizado.
Oliveira (2014 p. 74-80) comenta um pouco sobre o método gramática-tradução:


“O ensino da gramática tem uma característica bem específica no método: ela é feita de forma dedutiva. O professor apresenta formalmente as regras sintáticas, sem deixar de apresentar também as exceções às regras. Depois ele aplica as regras a exemplos escolhidos para encaixarem direitinho nas regras. Em seguida, os alunos fazem exercícios de aplicação desses regras para verificarem se aprenderam e compreenderam as estruturais gramaticais e suas regras”


    Esse método trabalha a estrutura da gramática para a  aprendizagem de uma língua. Essa seria uma abordagem explícita pois todas as relações sintagmáticas e paradigmáticas estão expostamente evidenciadas pelo professor.
    A abordagem estruturalista tem um método para tudo. Ele serve de base e de ciência-piloto das ciências humanas, conforme Orlandi (2009, p. 24), e teve muitas formas, dentre elas, o funcionalismo.
    Partindo do ponto de vista segundo o qual uma estrutura é uma rede de relações, nada melhor do que ver o mundo dessa maneira. Se prestamos atenção, o mundo gira em torno de um sistema, nossas relações estão em interelação e a língua, apesar de suas modificações, obedece uma ordem estrutural.
    O estruturalismo no está presente no ensino, em especial no dia língua, até hoje. Ele é suporte para vários métodos que continuam obtendo resultados positivos. É importante o professor utilizar esta abordagem para que o aluno possa internalizar a estrutura da língua alvo.




BIBLIOGRAFIA


Martelotta, Mario Eduardo (org). Manual de linguística - 2ª ed. - São Paulo - Contexto, 2012.


Fernanda Mussalim; Anna Christina Bentes. (Org.). Introdução à lingüística:domínios e fronteiras - volume 2. 8ed.São Paulo: Cortez, 2012.


Oliveira, Luciano Amaral. Método de ensino de inglês: teorias, práticas, ideologias- 1ª ed - São Paulo: Parábola, 2014.



Orlandi, Eni Puccinelli. O que é linguística. - 2ª ed.-  São Paulo: Brasiliense, 2009.



Carvalho, Castelar de. Para compreender Saussure: fundamentos e visão crítica. 19 ed -     Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.





OS ANIMAIS POSSUEM UMA LÍNGUA?


 
 
 
 
 
 
 
            Os animais possuem um sistema de comunicação. Podemos perceber isso quando falamos e interagimos com o nosso cachorro e temos um feedback positivo dessa interação. Os chimpanzés, no zoológico, aparentam conversar entre si de uma maneira muito clara. Os macacos são seres com o grau de inteligência a mais do que os outros animais, porém, eles nunca poderão ministrar uma aula.
            Entretanto, há diferenças, muito bem definidas, entre o sistema de comunicação humana para o sistema de comunicação animal. Um exemplo é que o seu cachorro pode demonstrar suas necessidades básicas, atender alguns comando, perceber o perigo a sua volta, mas nunca terá uma conversa completa com você.
            Nós, humanos, temos um sistema de comunicação muito bem definido, rico em signos, somos capazes de falar em muitos assuntos, avaliamos situações, fazemos o uso da razão. Mas será essa a principal diferença? O uso da razão?
            Há muito anos é dito que nos diferenciamos dos demais animais por temos o dom da razão. O homem é um animal racional já dizia Aristóteles - claro que este conceito tinha um sentido muito mais amplo e completo -. O ser humano é um animal racional por ser detentor de um logos, mas este conceito deve ser repensado, pois os animais também são seres racionais. Se ser racional, nos dias de hoje, tem haver com a capacidade de raciocínio, então um gato também compartilha desta mesma característica. Quando um gato quer subir em um muro, ele faz todo um cálculo mental para ver a possibilidade desse salto. Esse cálculo realizado pelo gato nada mais é do que um cálculo trigonométrico. Os ursos, por exemplo, possuem um raciocínio de causa e efeito de alta complexidade.
            Logo, a resposta para a pergunta anterior é não. O uso da razão não é a grande diferença entre a linguagem humana e o sistema de comunicação dos animais. Para demonstrar as diferenças e similaridades entre esses dois sistemas, iremos destacar três grandes dimensões entre eles, segundo Jackendoff (1999), que são: um conjunto finito de símbolos discreto, deslocamento de lugar e tempo e atenção compartilhada.
            Os seres humanos possuem um conjunto finito de símbolos, que quando combinados produzem uma gama infinita de expressões significativas. Este conceito foi introduzido por Noam Chomsky (1957), em sua teoria modular da mente, inaugurando o marco das ciências cognitivas. Um bom exemplo dessa teoria é o uso do nosso alfabeto com vinte e seis letras, isto é, temos um sistema finito, limitado de caracteres que, a partir dele, podemos combinar e formar diversas palavras, com essas diversas palavras podemos formar sentenças infinitas. O mesmo não acontece com os animais. Os macacos possuem um sistema discreto de símbolos, mas eles não conseguem combinar esses símbolos para formar um sistema mais complicado de comunicação. Portanto, possuímos a criatividade linguística, produzimos frases nunca ditas antes por meio deste recurso mental.
            A segunda grande diferença é a noção de deslocamento. Nós, seres humanos, temos a noção do aqui e do agora. Podemos falar sobre eventos que aconteceram no passado, coisas que acontecem no presente e que poderão acontecer no futuro. Podemos falar sobre outros lugares sem nunca termos ido antes, falamos sobre coisas abstratas, o que seria impossível para os animais. As abelhas, por exemplo, se comunicam por meio do espaço. Elas dançam, fazem um movimento ondulante quando acham mel, mas elas não fazem isso caso realmente não tenham encontrado mel.
            Na linguagem humana, há a noção de atenção e intencionalidade compartilhada. Os seres humanos compartilham dos mesmos objetivos, trabalham em grupo, compartilham atenção em um assunto e concentram-se para atingir uma meta. Para que a vida social tenha sucesso, nós temos a capacidade da empatia, de troca de papéis e fazer análises de julgamento, conseguimos fazer leitura e previsões do nosso próximo, temos mecanismos de rotulação para facilitarmos os nossos relacionamentos. O que já seria impossível na linguagem animal, uma vez que, eles não possuem noções de previsibilidade, tempo e de coisas abstratas.
            Aristóteles, em sua obra A Política, define o homem como o ser mais político entre os animais, dotado da faculdade da linguagem e da fala que, sem ela, seria impossível viver em sociedade, pois a base da sociedade é a comunicação. Somos programados para vivermos socialmente por meio de um sistema virtual chamado língua. Está escrito em nosso código genético, instintivamente, que dotamos dessa faculdade da linguagem e da fala.
            Os animais também compartilham de certo cooperativismo, mas nunca da mesma maneira, complexa, como a dos seres humanos. Eles possuem um sistema de comunicação com alguns símbolos        lógicos e significativos, entretanto, eles não conseguem assumir uma comunicação mais complexa, com noções de tempo e espaço. Esse conjunto de símbolos é usado para suas necessidades mais básicas como comida, reprodução, perigo, afeto e ameaça.
            A grande questão é como pode o sistema de comunicação dos animais ser tão parecido com o nosso? Quais são os aspectos que são únicos da linguagem? E quais são os aspectos da linguagem humana que desenham as habilidades propriamente humana? E quais desses aspectos não são compartilhados pelos os animais? Para esta e muitas outras perguntas ainda não temos respostas, apenas suposições, pois, não existe um registro histórico que catalogue o ponto exato que a faculdade da linguagem se estabeleceu e como ela se desenvolveu ao longo do tempo. A língua é volátil, no momento em que a pronunciamos ela se foi, não existem fósseis, ou algum tipo de registro que comprove seu marco na história.
            Cientistas buscam, incessantemente, a resposta para a origem da linguagem humana e qual o seu ponto de interseção com a comunicação animal. Depois de várias pesquisas, vasculhando as sequências do código genético humano, descobriram um provável gene responsável pela faculdade da linguagem, o FOXP2. Segundo a pesquisa, este gene tende a causar déficits de linguagem, bem como o controle da face e da boca. O gene seria uma forma alterada de um outro gene encontrado nos macacos. Apesar dos grandes avanços da ciência, ainda se sabe muito pouco sobre o assunto, mas o caminho biológico da faculdade da linguagem está sendo aos poucos desvendado.
            Sendo assim, não existe outro sistema de comunicação igual a dos seres humanos. A comunicação animal pode até se aproximar da linguagem humana de uma certa forma, entretanto, será de um maneira rudimentar e limitada. A linguagem nos ajuda em nossas relações e interações diárias com o mundo, podemos nos expressar por meio de vários tópicos, compartilhando milhões de pensamentos com o outro. A linguagem é uma ferramenta cooperativa para os seres humanos. Ela é o que nos torna tão humanos, pois podemos representar e compartilhar pensamentos ilimitados, nos posicionando como sujeitos, agentes da nossa própria história.
           
                       
           
BIBLIOGRAFIA:
 
JACKENDOFF, Ray. 1999. Possible stages in the evolution of the language capacity. Trends in Cognitive Sciences. Vol. 3. nº7. p. 272-279. Julho/1999.
KNIGHT, Chris; STUDDERT-KENNEDY, Michael; HURFORD, James. The evolutionary emergence of language: Social functionand the origins of linguistic form. USA: Cambridge University Press, 2000.
PINKER, Steven; JACKENDOFF, Ray. The faculty of language: What is it, who has it, and how did it evolve?, 2004. Disponível em < https://ase.tufts.edu/cogstud/jackendoff/papers/FacultyofLanguage.pdf > Acessado em 05/01/17.
MUSSALIN, F; Bentes, A.C. (Org.). Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2001.
FITCH, W. Tecumseh. The evolution of a language. New York: Cambridge University Press, 2010.
ARISTÓTELES. A política. Tadução de Roberto Leal Ferreira. 3ªed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
JOURDAN, Christine; TUITE, Kevin. Language, culture and society. New York: Cambridge University Press, 2006.
CHOMSKY, Noam. Syntatic Struture. New York: Mouton de Gruyter, 2002.
PINKER, Steven. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
THE WAGGLE DANCE OF THE HONEYBEE – Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=bFDGPgXtK-U >. Acessado em 05/01/2017.
HOW TO SPEAK TO CHIMPANZEE - Extraordinary Animals - Series 2 – Earth – Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=NBFBbFcixRY> Acessado em 05/01/2017.